Logo que os
aventureiros se estabeleceram nos sertões do Sapucaí, foram conhecidos todos os
seus próximos afluentes - o Cervo, o Itaim, o Sapucaí-Mirim e o Mandu, que
banha a cidade de Pouso Alegre, situada à margem esquerda, a um quilômetro de
sua foz.
O nome que lhe deram
os primeiros vindiços à região não provém, como querem alguns, do apelido
"Manduca", modo de pronunciar Manuel entre os bugres civilizados, nem
ainda das expressões lembradas por Teodoro Sampaio, no seu livro "O Tupi na
Geografia Nacional": Mandu, nome de uma figura fantástica e de uma pequena
ave - o Mandutôlo.
Segundo opinião
vulgarmente aceita e fora já de controvérsia, o nome Mandu, rio, originou-se de
Mandu, peixe, o que se confirma no caso de Pouso Alegre. É geralmente sabido que,
no inverno, esse peixe se encontra em grande abundância no Mandu, tanto que,
nesse tempo do ano, era costume em Pouso Alegre fecharem-se paris que só
apanhavam mandis, das variedades branca e amarela e de todos os tamanhos.
Como é sabido, os
exploradores faziam as suas viagens no tempo do frio, e os que se prevaleceram
da pesca no Mandu, por essa estação, apenas pescavam madis; então, e muito
naturalmente, denominaram eles o rio do Mandi, que por confusão comuníssima de
pronúncia, passou a ser Mandu.
As modalidades
regionais da língua tupi modificaram muitas das suas palavras. O "I",
água, monossílabo e vogal gutural, não encontra nenhuma grafia que represente
exatamente a variedade de sons que lhe têm sido atribuídos. Não existindo em
português sinal representativo do som do "Y" ou do "U"
francês, a pronúncia gutural tupi ficou, ora equivalente a "I"
simples, como na palavra Ipanema, etc; ora equivalente a "U", como na
palavra Utinga, e outras.
Da mesma e difícil
vocalização do "Y' grego, cuja gama, como já se disse, está entre
"I" e "U", resultou a desinência "U" ou
"Hu", que se nota em certas denominações do norte e sul do Brasil,
como em Moiu, rio das cobras; Cunhãhu, rio das mulheres, Mondahu, rio do furto;
Tambaú, rio das conchas e Mandihu, rio do mandi.
Modificação igual
deu-se com outros rios que têm o mesmo nome, por exemplo, o rio Mandu no Estado
do Espírito Santo. Esse rio tomou o nome do lugar em que nasce - região dos
índios Mandis, e bem assim o Mandu-Mirim, ambos afluentes do Rio Doce.
Em todos os documentos
antigos e mapas conhecidos, a palavra Mandu vem grafada sempre do mesmo modo,
menos na carta corográfica da capitania de São Paulo, de 1766, onde consta
grafada “Mandu”. O nome assim com dois "us", um com acento agudo, outro
com acento circunflexo, confirma a opinião corrente. Nota-se ainda um fato
interessante: é geral, tanto nos documentos antigos, como entre o povo, noutros
tempos, denominar-se rio do Mandu; não se escrevia nem se falava rio Mandu,
simplesmente.
Fora a aludida carta
corográfica, em outros documentos conhecidos a palavra Mandu mantém-se
invariável; jamais se encontra nesse nome qualquer modificação que revele
transições, de modo a deduzir-se que ele se originou de outra palavra -
Manduca, por exemplo.
Em vista desses e
doutros argumentos, não citados por estranhos à natureza deste trabalho,
concluiu-se definitivamente que o nome Mandu provém de Mandi - rio do Mandi ou
rio do Mandu.